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Esquizofrenia (10 de Outubro - Dia Mundial da Saúde Mundial)

  • reabilitadouro
  • 6 de out. de 2014
  • 6 min de leitura

Desde 1992 que se assinala a 10 de Outubro o Dia Mundial da Saúde Mental, com o intuito de chamar a atenção pública para a questão da saúde mental global, e identificá-la como uma causa comum a todos os povos, ultrapassando barreiras nacionais, culturais, políticos ou sócio-económicas.

Para o ano de 2014, a Federação Mundial da Saúde Mental escolheu o tema: Viver com Esquizofrenia.

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A esquizofrenia é uma perturbação mental grave caracterizada por psicose (perda de contacto com a realidade), alucinações, delírios, pensamento anormal e alteração do funcionamento social e laboral (os sintomas são suficientemente graves para interferir com a capacidade de trabalho, de relação com as pessoas e do próprio cuidado).

A esquizofrenia é um problema de saúde pública que atinge cerca de uma em cada cem pessoas e, o risco de recaída é de cerca de 50 a 70% nos doentes que não cumprem o tratamento e de 25% para os que cumprem o tratamento.

Culturalmente o esquizofrénico representa o estereotipo do "louco", um indivíduo que gera grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida.

Causas

Embora a causa especifica seja desconhecida, aceita-se a teoria de uma vulnerabilidade ao stress: uma pessoa que nasce com essa vulnerabilidade ao enfrentar momentos de stress como problemas graves (falecimento de familiares, acidentes, nascimento de uma criança, divórcio, perda de emprego...), problemas/abuso de substâncias tóxicas (álcool, droga,...) desencadeia o inicio ou reaparecimento da esquizofrenia. A pessoa não é capaz de encarar esses problemas.

Sintomas

A esquizofrenia começa normalmente entre os 18 e os 25 anos nos homens e entre os 26 e os 45 anos nas mulheres, embora também possa surgir na infância ou adolescência.

Os sintomas podem surgir de repente (espaço de dias ou semanas) ou de forma lenta, ao longo de anos.

Várias patologias (cujos nomes não são importantes referir aqui) têm sintomas comuns à esquizofrenia, mas o tempo que duram é diferente! Por isso, pelo facto de alguém, em algum momento, apresentar sintomas semelhantes ao da esquizofrenia não significa logo que é esquizofrénico, não é assim que se faz o diagnóstico.

A gravidade e o tipo de sintomatologia podem variar entre diferentes pessoas. Os sintomas podem ser agrupados em: delírios e alucinações, alteração do pensamento e do comportamento inabituais e sintomas negativos ou por défice.

Os delírios são crenças falsas que, geralmente, implicam uma má interpretação da realidade. Exemplos:

  • Delírios persecutórios: as pessoas acreditam que estão a ser atormentadas, seguidas, enganadas ou espiadas.

  • Delírios de referência: acreditam que certas partes dos livros, dos jornais ou das canções são escritas para/sobre elas.

  • Delírios de roubo ou de imposição do pensamento: acreditam que quem os rodeia pode ler a sua mente, que os seus pensamentos são transmitidos a outros ou que os seus pensamentos são impostos por forças externas.

As alucinações relacionam-se com os órgãos dos sentidos: visões, cheiros, gostos, sensações, sons. As mais frequentes são as alucinações auditivas (relacionadas com os sons) - a pessoa doente "ouve" vozes que falam sobre os seus comportamentos, que conversam entre elas ou que fazem comentários criticos.

A alteração do pensamento nota-se sobretudo no diálogo: não há coerência, mudam de um tema para o outro. O discurso pode estar levemente desorganizado ou ser completamente incoerente e incompreensível.

O comportamento inabitual pode traduzir-se em comportamentos infantis, agitação ou aparência/higiene inapropriados.

Considera-se sintomas negativos ou por défice:

  • frieza de emoções (a cara da pessoa pode parecer imóvel, há pouco contacto visual, não há resposta perante situações que normalmente fazem uma pessoa rir ou chorar)

  • pobreza de expressão (a diminuição de pensamentos da pessoa reflecte-se no facto de a pessoa falar pouco: as respostas são curtas, uma ou duas palavras, dando a sensação de vazio interior)

  • anedonia (dimuição da sensação de prazer: pode haver pouco interesse em actividades anteriores e maior gasto de tempo com actividades inúteis)

  • associabilidade (falta de interesse em relacionar-se com outras pessoas)

Tipos de esquizofrenia

Foram criados vários subtipos de esquizofrenia (paranóide, hebefrénica/desorganizada, catatónico, indiferenciado) no sentido de classificar os doentes de forma mais uniforme e melhor orientar o tratamento. Os subtipos são definidos consoante os sintomas mais marcantes no momento da avaliação, por isso, ao longo do tempo o doente pode "experimentar" por diferentes subtipos. Por ser algo complexo, não os vamos abordar aqui.

Diagnóstico

Não existe um exame de diagnóstico definitivo para a esquizofrenia. O diagnóstico é estabelecido pelo psiquiatra baseando-se na avaliação da história da pessoa e dos sintomas, depois de excluídas doenças "físicas" (endócrinas, hepáticas, neurológicas) e abuso de substâncias. É necessário que os sintomas durem há pelo menos 6 meses e impliquem alterações significativas no trabalho, escola ou vida social. A informação da família, amigos, professores é muito importante.

Prognóstico

A curto prazo (1 ano), o prognóstico da esquizofrenia está muito relacionado com o grau de cumprimento do tratamento farmacológico. Sem tratamento farmacológico, 70 % a 80 % das pessoas repetem o episódio de esquizofrenia nos 12 meses seguintes ao primeiro episódio.

A longo prazo, o prognóstico da esquizofrenia varia geralmente da seguinte forma:

  • um terço dos casos consegue uma melhoria significativa e duradoura

  • outro terço melhora um pouco, com recaídas intermitentes e uma incapacidade residual

  • outro terço fica com incapacidade grave e permanente.

  • Há um risco associado de suicídio de 10 %. Em média, a esquizofrenia reduz em 10 anos a esperança de vida.

Um bom prognóstico está geralmente associado a:

  • começo repentino da doença

  • início da doença na idade adulta

  • bom nível prévio de capacidade e de formação

  • esquizofrenia do subtipo paranóide ou não deficitário.

Os factores associados a um mau prognóstico são:

  • começo em idade precoce

  • pobre desenvolvimento social e profissional prévio

  • história familiar de esquizofrenia

  • esquizofrenia do subtipo hebefrénico ou o deficitário.

Tratamento

Os objectivos gerais do tratamento são:

  • reduzir a gravidade dos sintomas psicóticos

  • prevenir o reaparecimento dos episódios sintomáticos

  • prevenir a deterioração do funcionamento do indivíduo

  • e prestar apoio ao doente para que tenha um funcionamento ao máximo nível possível.

Para isso, o tratamento assenta em três pilares:

  • fármacos antipsicóticos (clorpromazina, flufenazina, haloperidol, tioridazina, risperidona) - para reduzir ou eliminar sintomas (delírios, alucinações pensamento desorganizado). Mesmo depois dos sintomas terem desaparecido e apesar dos efeitos adversos fortes, é muito importante que se continue a toma da medicação, para evitar novos episódios.

  • reabilitação e as actividades com apoio comunitário – são utilizadas para tornar as pessoas com esquizofrenia capazes de conviver na comunidade, permitindo que trabalhem, façam compras, mantenham uma casa, cuidem de si e se relacionem com outras pessoas. Pode ser necessário que estas pessoas vivam em apartamentos vigiados ou em grupos, para que se consiga assegurar que tomam a mediação.

  • Psicoterapia – o objectivo é estabelecer uma relação de colaboração entre o doente, a família e os profissionais de saúde, para que o doente possa compreender a doença e consiga geri-la, tomando a medicação como prescrita e tendo noção que as situações stressantes podem agravar a doença.

Como lidar com uma pessoa com esquizofrenia?

  • Não discutir o conteúdo da alucinação. Dizer apenas que não consegue ver/ouvir/cheirar o mesmo que a pessoa com esquizofrenia está a sentir. Se o doente diz “Esta voz diz que não presto”. Em vez de “lá estás tu outra vez, isso não existe! Pára de inventar”, diga antes: “Não deve ser fácil estar sempre a ouvir o mesmo. Queres falar? Talvez se conversares, deixes de ouvir…”

  • Tente distrair o doente, falando com ele abertamente.

  • Faça-o sentir-se aceite e compreendido pela familia.

  • Incentive, sem forçar, o doente a participar em actividades domésticas, para que ele perceba que tem algum controlo. Mas seja realista – trace metas que o doente seja capaz de alcançar!

  • Não faça tudo pelo doente, ajude-o a reaprender habilidades que permitam que ele seja mais independente

  • Evite situações em que seja previsível reacções de mau estar do doente.

  • Crie rotinas confortáveis e previsíveis, crie um ambiente calmo e de confiança

  • Mantenha o bom humor e o equilíbrio. Cuide também de si!.

  • Organize com o doente a medicação diária para perceber se está a ser tomada correctamente

  • Repeite o isolamento e o espaço emocional do doente, evite ser intrusivo.

Lembre-se que os sintomas são da doença, não do doente.

Esteja atento aos sinais: assim é mais fácil evitar recaídas e o avanço da doença. Se diagnosticada e tratada a tempo, a pessoa com esquizofrenia pode ter uma vida adequada e com bem-estar!

 
 
 

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